quinta-feira, março 12, 2009

Sem Terra, Multinacionais, mídia e Engenheiros Florestais: solução da crise nas mãos de Economistas?


É pertinente posicionamentos divergentes em relação aos acontecimentos envolvendo as empresas de papel e celulose, Aracruz e Votorantim e a Via Campesina e o MST, o mais instigante, é o posicionamento dos Engenheiros Florestais no Brasil. Ao mesmo tempo que tentam tratar das questões sociais, parecem deixar as econômicas, e reais fonte de poder, à margem. Bem como, parecem alheios ao processo de construção da imagem institucional das empresas que julgam defender.

A Engenharia Florestal é uma classe profissional chave na sustentação destas empresas, mesmo que o Citigroup em relatório sobre a Aracruz, mostre-se "consideravelmente pessimista com o setor, sublinhando que praticamente 100% das receitas da companhia  são provenientes da matéria-prima" (Fonte : Infomoney. por Celulose Online). O maior problema da Aracruz, é tratar da matéria prima? Ou seja, continuamos um país exportador de matéria prima, e nós florestais, estamos na ponta fraca do negócio? Ou temos uma oportunidade pela frente?

A dificuldade também assombra governos. Em um incidente passado ocorrido no Rio Grande do Sul, Walter Nunes, diretor de operações da Aracruz, havia “uma dificuldade em alguns setores do governo federal de lidar com a questão de que as pessoas eram ligadas a alguns movimentos no passado e agora estão no governo, elas não estão sabendo separar as duas coisas” (Fonte: DCI).

Talvez por isto, em carta ao Presidente Lula, a ABRAF, Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas, tente arrancar um posicionamento do Governo. Para quem depende do Jornal Nacional, Lulá terá de explicar, às empresas, porque investe em programas sociais e na reforma agrária promovida por estes movimentos sociais, enquanto é preciso de recursos para salvar as empresas da crise?

Desta forma, é difícil entender o que sustenta questionamentos sobre as razões lógicas para um ataque de mulheres à estas empresas. E principalmente, de onde surge tanto estranhamento da classe de profissionais que se dedica ao desenvolvimento florestal, em relação à percepção que os outros tem de seu trabalho. Frente ao salário e volume de contratações de Engenheiros Florestais frente a outros profissionais, esta é uma questão pertinente. Pois temos culpa em fazer com que nossa classe seja desfavorecida em concursos públicos às contratações nos bancos universitários?
A forma como as assessorias de comunicação das empresas junto da grande mídia tratam do assunto, não parece esclarecer, nem parece este o intento.

De acordo com a Via Campesina, o protesto alusivo ao "Dia Internacional de Luta das Mulheres", reúniu militantes do Espírito Santo, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, 1,3 mil pessoas participaram da manifestação no Portocel. O porto é de propriedade conjunta da Aracruz (51%) e da Cenibra (49%), duas das maiores empresas produtoras de celulose no Brasil (Fonte: Gazeta Online por Celulose Online).

Primeiro, as notícias nos remetem ao prejuízos causados pela "ocupação de terras da Votorantim Celulose e Papel (VCP) pelo movimento da Via Campesina teve como saldo o corte de 1,6 mil árvores de eucaliptos" (CeluloseOnline -Agência Estado/Estadão Online), nada maior que o ataque surpresa de formigas cortadeiras por uma hora entre 1 milhão de hectares cultivados. Pior ainda, o prejuízo do protesto de cerca de meia hora foi maior, pois "Cerca de 50 caminhões preparados para embarcar o produto ficaram parados" (Fonte : Gazeta Online por Celulose Online), nada maior que um problema na tramela do portão de uma fábrica com capacidade nominal de mais de 2.000.000t/ano (Fonte: Aracruz).  Então, as invasões do MST e os arranhos da Via Campesina são um problema para a produção florestal da empresa? Não.

De acordo com a empresa, não é um problema florestal. Pois alega-se que o "pode chegar a R$ 2,8 milhões o prejuízo causado pelas mulheres da Via Campesina na invasão do porto privativo da Aracruz Celulose, em Barra do Riacho, segunda-feira [09/03/2009)], no Espírito Santo (Fonte: O Estado de S. Paulo por Celulose Online ). Uma operação pós florestal. Embora, nem soubessem afirmar qual a capacidade de embarque anual de celulose do Portocel, num dia é 4,5 milhões de toneladas, no outro é de 7,5 milhões de toneladas (Fonte : Agência Estado. Adaptado por Celulose Online). O certo é que a dificuldade em operar o negócio, afetará os investimentos na área florestal, mas a real fonte de dificuldades, é o porto parado por 5 horas, estaria na incompetência dos florestais, ou reside em outro lugar?

Sim, na alma do negócio. "A Votorantim Celulose e Papel, que já tinha 28% da Aracruz, fez em agosto uma oferta de R$ 2,7 bilhões pelos 28% da família norueguesa Lorentzen na empresa. A oferta foi aceita, mas dependia de um aval da família Safra, que também detinha 28% da Aracruz e tinha um acordo de preferência na compra das ações dos Lorentzen. Os valores do acordo entre Safra e Votorantim não foram revelados, mas os Safra devem ter recebido uma compensação financeira para dividir as ações dos noruegueses" (Fonte : Agência Estado por Celulose Online). Esta é a crise, falta crédito, juros alto, mercado retraído, mas não faltam R$2,7 bi para uma empresa mudar de mão.

 A finaceirização da Floresta?

Em setembro passado, a Aracruz recebeu o prêmio Destaques do Setor, promovido pela Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP), na categoria "Fabricante de Celulose de Mercado" (Fonte: InvestNews por Celulose Online).  No mesmo mês, atendendo pedidos e rezas brabas de todo setor exportado, o dólar se valorizou em mais de 11% ante o real.

Contrariamente, a Aracruz anunciava prejuízo em derivativos. Mas é "fortemente influenciada" pela valorização das cotações do dólar. Pouco mais de uma hora da abertura do mercado foi suficiente para as ações preferenciais série B da Aracruz despencarem 13,79%, a R$ 7,25. A empresa apostava na queda do dólar, enquanto os setor florestal clamava o aumento do dólar para viabilizar as exportações. Pode? Pode, ganha-se mais na especulação financeira do que na produção industrial. Tornado a produção florestal secundária? 

Este ano, antes que o MST levantasse uma bandeira, Aracruz já liderava a ponta negativa do Índice Bovespa, os papéis preferenciais classe B da Aracruz (ARCZ6) fecharam com queda de 19,30% na semana, cotados a R$ 1,38. Na terceira posição, as ações preferenciais da VCP (VCPA4) mostraram desvalorização de 17,65%, cotadas a R$ 9,47. De quebra, os papéis da segunda assumiram a liderança negativa do índice em 2009, ao acumular perdas de 47,18% na base anual. Logo na sequência, as ações da Aracruz somam baixa de 44,58% na mesma base comparativa". A "classificação de alto risco para as ações da Aracruz reflete as incertezas relacionadas com a exposição da companhia ao câmbio", afirmaram os analistas do Citigroup em relatório (Fonte: Infomoney por Celulose Online).  

Na roda da fortuna cambial, a verdadeira crise tirou da Aracruz em 2008 mais de US$ 2 bilhões (Fonte : DCI. Adaptado por Celulose Online). Isto mesmo, R$ 4,6 bilhões de reais, suficientes para fazer 3 fábricas iguais a que a Stora Enso faz no Rio Grande do Sul.  
Ou seja, se estamos preocupados com os empregos gerados no campo, através da atividade florestal, deveríamos perguntar, qual a inserção e ação econômica estas empresas pretendem.
Então, frente a esta arena, mais perto de Nasdaq do que do eucaliptal, o posicionamento dos Florestais, em favor ou contra o MST, faria diferença?

A Imagem da emperesa e o Valor das ações no mercado

O trabalho de muitos profissionais da área florestal ajudou a fazer com que 8 empresas brasileiras fizessem parte do índice Dow Jones de Sustentabilidade (DJSI) 2008. São elas Aracruz, Bradesco, Itaú Holding Financeira, Cemig, Itaúsa Investimentos, Petrobras, Usiminas e Votorantim Celulose e Papel (VCP). “A companhia de gerenciamento de ativos Sam, que é especializada em investimento sustentável e tem sede em Zurique, é responsável pela metodologia do DJSI. O índice é considerado um importante parâmetro para análise dos investidores mundiais sócio e ambientalmente responsáveis e existe desde 1999. Esta é, portanto, sua décima versão.

"Os resultados da revisão anual da família DJSI são observados atentamente pelos participantes de mercado em todo o mundo. Atualmente, gestores de ativos de 16 países têm acesso aos índices para gerenciar uma variedade de portfólios pautados pela sustentabilidade, incluindo fundos mútuos, contas segregadas e produtos estruturados. Os ativos totais sob gerenciamento em veículos de investimento baseados no DJSI estão hoje próximos de US$ 6 bilhões", afirmou a Sam, em comunicado” (Fonte: Agência Estado. Adaptado por Celulose Online).

Alguma lição à vista?

È neste campo que a mídia não abordou o prejuízo, da imagem da empresa, alvo real dos cupins da Via Campesina. A empresa não vale só pelo que produz, mas pelo que manifesta produzir. Mas a mídia aberta não aborda as razões destes grupos, relacionadas por estes também às práticas de manejo florestal adotadas, e que concerne efetivamente ao posicionamento da Engenharia Florestal.

Então, o posicionamento dos florestais brasileiros, faz toda a diferença. E talvez seja por isto, que a mídia aberta, trate dos prejuízo causado por 400 mulheres, mas não daquele causado por um punhado de financistas. Qual a lição para os florestais. Defender as empresas do MST é fundamental para manter as coisas do jeito que os financistas gostam. É assim que teremos nosso lugar ao sol?