sexta-feira, abril 25, 2008

Não basta proibir o comércio do pinhão

Dia 15 de abril inicia a safra de pinhão segundo a Instrução Normativa No. 20 do IBAMA, que em 1976 proibiu a colheita de pinhão por derrubada de pinhas imaturas, antes do dia 15 de abril.

Esta é data em que tem início o desprendimento das sementes, e pode-se dar a colheita, transporte e comercialização do pinhão, quer para uso em sementeiras, quer para ser usado como alimento. A mesma normativa também proibiu o abate de pinheiros adultos, portadores de pinhas, durante toda a safra, incluindo no manejo florestal, garantias da regeneração natural da floresta, pois desde 1968 já se sabia do fim da araucária. Multas da Polícia Ambiental e do IBAMA chegam a R$ 500 por quilo apreendido, além da perda do produto e o constrangimento público. Este ano o envolvimento do Ministério Público culminou na festa da paçoca de Capão Alto, sem pinhão. O que poderia ser uma celebração à Araucária transforma-se num conflito.

O pinhão ainda verde é ruim de panela e na chapa e, segundo alguns, muito pinhão é roubado antes da época ideal. Comprar pinhão ruim é um despropósito. Mas isto não vale para todo o pinhão produzido, que possui qualidade e provém de pessoas que dependem da floresta. E ainda, do pinhão produzido mais tarde, o que restará para a fauna no inverno? Nascerão apenas as árvores que debulham cedo? Isto faz crer que a legislação atual não resolve. Colher pinhão sem critérios também não.

Pinha consumida por animais silvestres. Painel, 04/2007
É urgente definir uma agenda na qual o pinhão seja preservado e compartilhado, e para isto, algumas questões precisam ser respondidas. Quanto pinhão pode-se retirar sem comprometer o ecossistema? Como o consumidor poderá tomar conhecimento se o pinhão foi produzido sustentavelmente? Que políticas públicas incentivam a conservação e o uso sustentável da Floresta com Araucária?



Diante deste desafio é que o CAV/UDESC e o Instituto Pereté iniciam o Projeto Kayuvá, desenvolvido com apoio do CNPQ, para realizar pesquisas que avaliam a produção sustentável do pinhão e seu consumo consciente. Bem como divulgar informações técnicas para orientar o aumento da produção e aproveitamento para melhorar remuneração do pinhão. Elevando o valor da floresta, e claro, a importância de quem vive da floresta.