segunda-feira, fevereiro 20, 2006

A perda de Tradições

A perda de Tradições:
Abandono do passado num futuro em construção

O debate sobre a perda da tradi ção gauchesca e o advento do reflorestamento nasce com um novo conservadorismo ideológico: da proteção, conservação e solidariedade. Mas conservadores culturais e ecologistas podem clamar por uma sociedade e natureza que não existem mais. Atividades rurais mudaram junto com a sociedade. A expansão do capitalismo tem limites ambientais e da modernidade, associado com a democracia liberal, o imperativo econômico transforma florestas e campos em fontes de commodities que distanciam ricos e pobres.
Para Giddens, a globalização, a destradicionalização e a intensificação da reflexividade social são as causas das mudanças sociais e da natureza. A crise do conservadorismo e o fim de sociedades pouco reflexivas, com estilos de vida muito arraigados, forçam o reordenamento das condições da vida. Seleciona o que será preservado e reinventa a tradição.
A direita reconhecida pelo neoliberalismo não é conservadora, embora o diga, pois alimenta processos radicais de mudança com expansão incessante dos mercados. Paradoxalmente, busca vínculos de conservação da nação, religião e família, enquanto o individualismo liberal impera no mercado, e sua expansão por atacado é a principal desintegradora da vida familiar. Na contramão do desejo de preservar heranças do passado, perdemos o Estado do bem-estar social que pensamos possuir. A tradição não será defendida de forma tradicional, sua conservação não resiste com a preservação não reflexiva do passado.
A força de mercado e do agressivo individualismo neoliberal não possui fronteiras e assola a tradição em todos os lugares. No reflorestamento o galderio muda, mas continua um peão. Sem renda e terra para a livre emancipação continua a dormir nos pelegos do galpão. A tradição que não queremos é aquela da desigualdade e imobilidade social.
A tradição tradicional torna-se fundamentalista e incapaz de criar harmonia social. A sociedade mudou, mas o debate sobre sociedade e natureza descompassa na pior tradição: do tranco político que dança dois passos pra lá, dois passos pra cá, e não sai do lugar.

Guilherme Floriani
g_floriani@yahoo.com.br